«Arquivos
de Macau» - em resultado do interesse demonstrado por algum sector especializado, a
Imprensa Oficial de Macau reeditou a I Série (1929-1931) desta publicação, surgida em
1929 em resultado da Portaria n.º 268, de 27 de Abril desse ano, tendo por finalidade
«dar a conhecer todos os documentos de interesse histórico que forem encontrados nos
arquivos do território de Macau».
Foi, sem dúvida,
uma obra que prestou relevantes serviços à investigação sobre a história das regiões
banhadas pelo Indico e Pacífico, na altura em que ainda não existia o Arquivo Histórico
de Macau como instituição vocacionada para recolher, guardar e conservar os documentos
da Administração Pública do território.
Uma enorme
quantidade de documentos foram então publicados, arrancados das arrecadações onde
jaziam sem as mínimas condições de conservação, de segurança e sem qualquer
tratamento arquivístico. Muitos milhares de documentos conheceram então a luz do dia.
Dez anos de
paragem separam esta fase da seguinte; os tempos eram difíceis, estava-se em plena
Segunda Guerra Mundial. Depois deste interregno, a nova série, que então surge, teve
apenas um ano de vida (II Série, 1941).
Em Fevereiro de
1964, aparece a terceira série que continua fiel aos objectivos inicialmente traçados.
Nesta altura, destacou-se Luís Gonzaga Gomes como responsável da Biblioteca Nacional de
Macau e principal impulsionador dos Arquivos de Macau (III Série, vols. I a XXXII, 1964 a
1979).
A publicação
foi retomada de 1981 a 1988 (IV Série).
Hoje em dia cabe
ao Arquivo Histórico de Macau a preservação e divulgação dos documentos históricos,
que é feita através do seu Boletim.
Está a Imprensa
Oficial de Macau empenhada em reeditar obras que se afiguram relevantes para o
estudo e compreensão da realidade macaense nos seus múltiplos aspectos. O aspecto
histórico acaba de ser contemplado com a reedição da obra «Arquivos de Macau»,
uma iniciativa digna dos maiores elogios, tendo em conta que esta publicação,
imprescindível para um trabalho sério sobre a história de Macau, encontrava-se, há
muito tempo, completamente esgotada.
«Os Arquivos de Macau»
eram um facto desde 1929, muito antes da existência «de jure» e «de
facto» do Arquivo Histórico de Macau que, criado no papel pelo
Diploma Legislativo Ministerial n.º 5, de 28 de Junho de 1952, só se tornaria um
organismo, na realidade, apenas, em 1979.
A denominação é elucidativa.
Tratava-se de encontrar um meio eficaz de recuperar os documentos, existentes no
Território, sobre a história de Macau e de muitos países desta região do globo, com os
quais a «Cidade do Nome de Deus» se relacionou, desde o primeiro quartel do
século XVI, documentos esses em péssimas condições de conservação e de segurança
devido à incúria dos homens e à voracidade do clima.
O seu aparecimento tinha por
finalidade, nos termos da Portaria n.º 268, de 27 de Abril de 1929 «dar a conhecer
todos os documentos de interesse histórico que forem encontrados nos arquivos do
território de Macau». Foi, sem dúvida, um projecto que prestou relevantes
serviços ao estudo da história desta zona do mundo.
Uma enorme quantidade de
documentos foi, então, publicada, depois de arrancada das várias arrecadações, onde
jazia em precárias condições de segurança, sem qualquer organização e,
consequentemente, sem qualquer utilidade para o investigador.
A primeira fase desta revista foi
curta. Resistiu, apenas, três anos; mas cumpriu, dentro dos condicionalismos existentes,
a sua missão; com efeito, milhares de documentos conheceram, a luz do dia, nesse espaço
de tempo.
Dez longos anos de paragem separam
esta primeira fase da seguinte.
Depois desta forçada paragem,
houve que arregimentar energias e desenvolver esforços, para se retomar com
determinação este projecto, mas debalde. Os tempos eram difíceis. A guerra de
1939-1945, que mergulhou o mundo no caos, foi responsável pela vida efêmera da segunda
série desta revista. Teve somente um ano de vida 1941.
A terceira, a mais longa das
quatro séries, vai de 1964 a 1979. Publica, nada mais, nada menos, que trinta e dois
volumes, superando, em muito, as duas séries anteriores. Ultrapassou as dificuldades
então surgidas e prosseguiu o seu destino, consciente da sua histórica missão.
A quarta série teve que esperar
pelo ano de 1979, para que o Decreto-Lei n.º 27/79/M, de 28 de Setembro, que reestruturou
os Serviços de Educação, recriasse, no seu artigo décimo nono, o Arquivo
Geral de Macau, a seguir baptizado com o nome de Arquivo Histórico de Macau. Na
verdade, o atrás citado Diploma Legislativo Ministerial tinha sido uma tentativa falhada.
Não passou do plano das intenções.
Esta série estendeu-se até 1988,
tendo dado à estampa onze volumes, já com o título mais desenvolvido «Arquivos
de Macau Boletim do Arquivo Histórico de Macau».
Sem perder de vista a sua pureza
primitiva, procura, então, dar mais um passo em frente, colocando à disposição dos
investigadores inventários e catálogos do seu acervo documental.
De 1988 até 1990, há uma nova
paragem. Em 1991, esta publicação reaparece com o título «Boletim do Arquivo
Histórico de Macau» e abandona a denominação «série».
Um projecto desta envergadura
terá que ter, necessariamente, a sustentá-lo uma forte, competente e dedicada componente
humana, sem a qual não teria passado de letra morta. Este não poderia, obviamente, fugir
à regra. E quem é ou são as personalidades que se envolveram neste projecto desde a sua
criação até hoje?
Quanto à primeira pessoa é o
artigo n.º 2 da Portaria do governador interno, João Pereira de Magalhães,
que instituiu este projecto, que esclarece: «Da direcção dessa publicação fica
encarregado, em comissão gratuita, o professor do Liceu de Macau, dr. Telo
de Azevedo Gomes».
Decorridos alguns anos, a
direcção da revista é assumida, em 1941, pelo cónego Morais Sarmento
que publica seis números da segunda série.
Passados vinte e três anos de
hibernação, explicada, em grande parte, pela Segunda Guerra Mundial e suas sequelas,
tornava-se urgente encontrar uma pessoa cujo perfil se adaptasse aos objectivos
prosseguidos pelos «Arquivos de Macau».
A personalidade quem em boa hora,
então surgiu, foi o ilustre historiador e sinólogo Luís Gonzaga Gomes.
Iniciava-se a publicação da terceira série desta revista, a mais produtiva de todas.
Publicou trinta e dois volumes, com 191 números.
Com a morte de Luís Gonzaga
Gomes, é o iminente historiador Monsenhor Manuel Teixeira que, com o
entusiasmo e a competência que lhe são reconhecidos, retoma a publicação dos «Arquivos
de Macau» até ao momento em que, com a criação do Arquivo Histórico de Macau
pelo Prof. Doutor Silva Rego, se dá início, em 1981, à publicação da
4.ª e última série dos «Arquivos» que se estendeu até 1988.
A partir desta data, há um novo
intervalo que vai até 1991, altura em que se entra na última fase desta publicação,
com o título «Boletim do Arquivo Histórico de Macau», agora da
responsabilidade do Instituto Cultural de Macau/Arquivo Histórico.
Esta é a galeria dos homens
ilustres, responsáveis pelo êxito deste projecto que, em boa verdade, representou um
marco assinalável no panorama do estudo da grande história deste pequeno território.
Isaú Santos
Vice-Presidente do
Instituto Cultural de Macau
Maio 1998 |